Oséculo XXI está andando rápido. Iniciamos a terceira década. Que características a distinguirão? O mundo ficará melhor com a universalização das energias renováveis e da agenda da sustentabilidade? Ou a desigualdade se aprofundará, deixando as pessoas, países e regiões ricas mais distantes das mais pobres? Os trabalhadores se tornarão descartáveis com a inteligência artificial e a robotização como alguns prenunciam ou haverá apenas conversão da força de trabalho para novas áreas, como nas revoluções produtivas anteriores? Convulsões sociais serão a resposta à superfluidade do trabalho humano ou encontraremos formas de conviver pacificamente, por meio da redução drástica das jornadas de trabalho e de extensão de transferências governamentais aos excluídos?
São questões abertas que a humanidade e suas instituições terão que enfrentar. Se o século XX vivenciou guerras e revoluções, o século XXI, até aqui, apesar dos inúmeros e gravíssimos choques (Síria, Iraque, Venezuela, Torres Gêmeas etc.) tem escapado de conflitos extremos em escala mundial. Mas há muitos problemas latentes. A serpente não para de pôr seus ovos. Sigmund Freud apontava três fontes para o sofrimento humano: a prepotência da natureza, sempre incontrolável; a fragilidade do nosso corpo, finito e vulnerável a doenças e ao envelhecimento; e a insuficiência das normas que regem as relações humanas na família, no Estado e na sociedade. E questionava como instituições que nós mesmos criamos podem ser fonte de instabilidade e insatisfação.
O engenho humano será o responsável pela maior parte do desenrolar dos acontecimentos. Sensibilidade e habilidade serão necessárias. Um mundo mais próspero e fraterno pode surgir dos excepcionais incrementos de produtividade que advirão dos progressos da tecnologia da informação aplicados aos processos produtivos, incluindo os serviços públicos, que poderão experimentar um patamar de excelência e de universalidade jamais vistos. Mas se o egoísmo e a falta de empatia se impuserem, concentrando os ganhos em poucos, em um laissez-faire selvagem, assistiremos a um futuro com muita instabilidade, com desfecho imprevisível. Que o bom senso prevaleça.
“O Povo”, 17/05/2020